A exceção que confirma a regra
A polícia brasileira é sádica, psicótica e trabalha a serviço da bárbarie
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
A exceção que confirma a regra
sábado, 20 de agosto de 2011
A Copa do mundo (não) é nossa
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Kassab é fresquinho porque vende mais
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Trabalho escravo não é aberração no Brasil
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
A história que a história esqueceu
Eis que aparece no texto da lição de francês: “Chacun devrait acheter des produits de commerce équitable (todos deviam comprar produtos do ‘comércio justo’)”. E a professora emenda: “Isso é muito interessante”. E explica que o tal do comércio justo é uma ferramenta muito interessante pela qual os países ricos ajudam a desenvolver a economia dos pobres. “É assim”, ela exemplifica. “A gente paga mais caro nos cafés colombiano e brasileiro, por exemplo, porque o valor da compra vai direto para o bolso dos pequenos produtores e ajuda no desenvolvimento desses países”.
Ça marche (funciona), como diriam os franceses. E além disso, os produtores que entram no processo de “fair trade”, como é mais conhecido o termo no mundo, devem assumir um compromisso ecológico: evitar agrotóxicos e processos danosos ao meio ambiente. É bom? É bom. É uma medida de reparação de desigualdades. Como todas as medidas de reparação, merece críticas. Principalmente quando quem as promove prefere que as grandes reparações sejam feitas fora do seu quintal. Quer dizer, é bonitinho que a França ajude os produtores “econológicos” do Terceiro Mundo; mesmo que quase toda sua energia seja de matriz nuclear.
Mas não escrevo para criticar uma prática comercial sustentável. O problema – que pode deixar este texto meio insólito – foi um certo tom entre os “desenvolvidos” da sala (tínhamos duas americanas entre nós), quando o assunto veio à tona. Havia um quê de assistencialismo no ar. Um pouco de pena, um pouco de fatalismo... Era como se nós, pseudossubdesenvolvidos, fôssemos subdesenvolvidos por obra do destino. Como se tivéssemos uma doença incurável ou padecêssemos de uma maldição divina. Uma frase específica da professora, que não tem nada de ignorante – pausa para o currículo: foi jornalista durante anos, cobriu duas guerras civis e viveu na África –, me deixou profundamente consternado: “É melhor do que simplesmente repassar dinheiro” .
Discordo. Nós não precisamos aprender a pescar. Também não precisamos de mesada. Não somos crianças no plano da geopolítica global. Somos vítimas de políticas predatórias, isso sim. O Brasil nasceu pobre? Coisa nenhuma, foi empobrecido. E o Haiti, então? O Haiti exigiu dinheiro da França, me lembro bem. Foi o ex-presidente deposto Jean-Bertrand Aristide quem protocolou que a ex-metrópole deveria ressarcir o país em nada menos que US$ 21.685.135.571,48. A cifra seria a soma corrigida do valor que o Haiti pagou à França para ver legitimada sua independência, obtida de forma revolucionária. Durante séculos, a primeira república negra revolucionária foi oprimida por embargo cruel, promovido pela França, pela Inglaterra e, posteriormente, pelos Estados Unidos. Hoje, ele é o país mais pobre das Américas. Errado: é o país mais empobrecido das Américas. O Haiti é uma vítima da colonização francesa. Como Ruanda, Senegal, Argélia. Como Brasil, Angola, Moçambique, Timor são vítimas de Portugal. Como o México foi vítima da Espanha e, mais tarde, dos Estados Unidos.
Acho curioso este aspecto da mente colonizadora, que me remete imediatamente ao argumento dos inimigos das ações afirmativas aí no Brasil: a alienação da responsabilidade. Todo mundo reconhece as atrocidades do passado, todo mundo acha muito feio, muito triste, mas ninguém quer assumir o que foi feito. “Não posso assumir a culpa pelo erro de alguém que nem está mais aqui”. Assumir a culpa, não. Mas gozar das benesses daqueles crimes todo mundo quer. Ou alguém vai devolver para o Egito a esfinge milenar que ostenta, no Museu do Louvre, a placa “trouvée a Tanis” (“encontrada em Tânis”, mas podia estar escrito “Saqueada em Tânis”)? Ou alguém vai deixar de estudar na USP só porque o pretinho – que é mais dedicado, paga os mesmos impostos e não tem as mesmas condições – não consegue entrar.
Inverto a pergunta: por que nós, negros e terceiro mundanos, temos que pagar pelos erros dos SEUS ancestrais? Bom, só para constar: estou aprendendo um monte na França, crescendo de verdade, estou admirado com todas as maravilhas que este povo – que em geral é muito simpático, diga-se de passagem – tem a oferecer. Acho que, em termos políticos, sociais e, mesmo culturais, temos muito a aprender com eles. E a gente ainda vai falar bastante disso tudo neste espacinho aqui. Este texto foi um desabafo, já que nem eu nem a Vanessa tivemos francês suficiente para travar essa discussão na sala de aula...
terça-feira, 9 de agosto de 2011
É sorrir e desabafar
Primeiro, a grande notícia de que você vai poder estudar no exterior.
Depois, a saga.
Tenho 23 anos e resolvi me aventurar em um mestrado fora do Brasil. Aprender direito outra língua, conhecer pessoas diferentes, morar em uma cidade que não parece em nada com a sua… Tudo isto é tão saboroso quanto bizarro. Escolhi a França. Paris. Um mestrado em América Latina, na Sorbonne. Claro: brasileira, latino-americana e corintiana que sou, jamais gastaria meu tempo estudando os franceses. (Mesmo amando seus metrôs, suas boulangeries e o cheiro de crepe de Nutella que tem esta cidade, como bem disse uma grande amiga).
Além de procurar um curso de francês, eu, que viajei casadinha ou, como diria minha vó, ‘amancebada’, procuro por casa e trabalho. Após três semanas de adaptações, pintou a primeira tarefa remunerada: cuidar do bebê de um vizinho. O “petit” tem pouco mais de um ano e um par impecável de olhos azuis. Tudo me agradou muito, mas, ao mesmo tempo, me colocou mil coisas na cabeça…
Dit-moi: como existe um bebê neste mundão de meu Deus que tem uma babá jornalista, que fala três línguas, é mestranda da Sorbonne e já trabalhou em três dos principais veículos brasileiros de comunicação? Como isso acontece?
Observando a maneira que nos olham, as tarefas que podemos desenvolver deste lado de cá do Atlântico, arrisco afirmar que, como os orientais, negros, árabes e indianos que colorem as ruas desta e de outras cidades importantes do mundo, somos, ainda, nada mais que simples seres colonizados. Um grupo que ainda corre do prejuízo que nos causaram e que, dentro da luta diária, ainda esbarra (eufemisticamente falando) neste “serviçalismo”. Essa coisa com gosto de escravidão e peso do pensamento “emergente” à qual só as letras no nosso passaporte já são suficientes para nos designar.
sábado, 6 de agosto de 2011
Nós que aqui estamos praí espiamos
Promessas, grandes pretensões… A gente não tem saco pra nada disso.
Mas também não fazemos o tipo falso modesto, que diz: “vem ver meu bloguezinho! Eu não tenho nada pra dizer, mas sou legal! =P”.
Em geral, um texto de apresentação dança entre a arrogância e o largo caminho rumo ao desinteresse. É um texto que ninguém lê, que fica ali perdidão, explicando o inexplicável. Arriscamos um esboço e já avisamos que não temos problema em mudar de ideia. O lance é aprender, repassar, desabafar e não estar sempre certo. Se um carregar nas tendências ideológico-totalitárias, o outro se compromete a segurar o beó.
Somos dois jornalistas chatos na crítica, mas não no trato. Falamos o tempo todo do dia-a-dia dos dois mundos em que habitamos e, principalmente, da intersecção deles (São Paulo-Paris/ Brasil-França / América Latina-Europa).
A mistura entre o que conhecemos como “primeiro” e “terceiro” mundos (oscilações, inversões, contradições, enfim). O lance é jogar na tela o que fazemos o tempo todo: espiar o outro lado do mundo, profanando Pagú. E on y va porqueParis c`est nous!